quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
Rodrigo Mota - Tinta da China
Chove nanquim, corre tinta pelas ruas da cidade que a mão direita constrói. A mão esquerda se esforça por conter as gotas que ameaçam transbordar para fora do disco que compõe o universo navegável, atingindo, enfim, o paroxismo na dispersão coloidal de partículas. Antes de atingir a rua (que é, em fim de contas, a cidade-papel), cada gota se retorce e se torneia até modelar, em si, uma letra ou um símbolo. É uma luta renhida esta que se dá no ar: tinta à procura de sentido, à procura do corpo. Sob a lei da gravidade, dura pouco a luta. E depois que cai na sarjeta, a tinta perde novamente o estado de símbolo e volta a ser gota, líquido lúbrico que corre pelos sulcos do corpo em papel da cidade-mulher que a mão direita vai traçando com incontrolável prazer. Texto de Marcus Rogério Salgado. Coleção Ocultura. Tiragem de 50 exemplares. Edições Loplop 2013.
sábado, 7 de setembro de 2013
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