quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Caligramas.


Konrad Zeller chama de “Caligramas” a série de poemas visuais que executou a partir da leitura de textos de Göethe. É um termo que implica, necessariamente, ênfase na mão. Na mão mágica. Num processo capaz de revelar os universos que persistiam guardados em cada poema. Numa obra de arte cuja intenção oculta é instigar a meditação ativa. As forças contraditórias atuantes sobre o espaço textual mostram aos olhos o quanto eles andam viciados pela ilusão da continuidade, pela ilusão da linearidade. Dos textos originais de Goethe restam apenas linhas de força, diagramas dos conflitos experienciados pela alma em fricção dúplice - com o mundo e com o texto. Ao remixar Göethe, foi com os dois pés em vôo que Zeller entrou pelo território da poesia sampler – o que é muito bom, pois poesia se faz pelo menos dois metros acima do chão, em vertical ou horizontal postura. Seu vôo é feito em latente sincronicidade com o tempo do poema alheio e com o mundo microscópico das letras que o compõe. O texto, moído até estado de pré-corpo, com a eficaz liberação das unidades mínimas da escrita, abre-se a permutações moleculares e recombinações silábicas, remontagens e desleituras. De frente a cada caligrama, no intervalo entre o fechar e o abrir das pálpebras, outras palavras surgem, sem contar a perturbação que experimenta a retina do receptor, que faz lembrar o cinema-epilepsia proposto por Tony Conrad, com o filme The Flicker, ou mesmo as audaciosas composições para saxofone de La Monte Young em que várias notas se encapelam dando a ilusão entretanto de um som estático. Ilusionismo? As palavras engendram diagramas de forças impalpáveis mas atuantes, campos magnéticos minados. Eis mágica. É o mágico que se permite perder o controle sobre o truque. Ex-mágico. O mágico que poderia materializar pombas mas de cujo chapéu saem leões e panteras famintas que não serão capazes de comê-lo para se entregarem a seu apetite voraz de engolir o mundo em redor, o mágico e os leões e as panteras famintas esquecidos de antagonismos como forma e fundo, sujeito e objeto. Dotado desse estado de espírito monista, em que liberdade e disciplina se dissolvem, é que Zeller se entrega à execução dos caligramas, articulando sentidos inusitados para os textos de Goethe, palavras-abertas, palavras-leques, terceiro sentido. Pairam sobre os caligramas vestígios de uma precisão milimétrica da mão, rainha implacável montada sobre a tesoura ou o estilete, cortando no papel os cachos-filigramas de letras, parindo criaturas verbais, vegetações de signos. Numa mão, a lâmina: na outra a carta de tarô. Sobre tudo isso, superpõe-se uma camada cronológica: o tempo de cada caligrama, as veladas que cada um deles implica, o sonho e a insônia congelados na fração do corte, lâmina saída do fogo gélido, polaridades dissolvidas, prontas a permitir a aceitação. A força centrifuga dos caligramas deve muito à disciplina que se insinua entre os encaixes das letras, ao quanto de aceitação às linhas de força naturais do poema deixou-se submeter essa precisão milimétrica, de forma a trabalhar uma pela outra num estado de colaboração entre os hemisféricos do cérebro detonador do equilíbrio meditativo, mesmo no receptor, já que a disciplina não se esgota no intervalo extático e isolacionista de criação porque passa o autor, mas desliza para a obra e contamina a quem a percebe e por ela se deixa contaminar. Daí as simetrias que os caligramas apresentam. Parafraseando um poema: é geometria, mas descabelada. Nascem as simetrias não do desejo de tornar palavra o que é relação ou potencial, mas antes de perceber e acenar como o que há de espelho e poço em cada palavra, de confirmar que os signos verbais são elementos genésicos da matéria.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Projeto sonoro de Marcus Salgado.


Marcus Salgado,sessão de escrita criativa com o poeta Sergio Lima (São Paulo 2006).

Para olvir:http: www.sendspace.com/file/gkh1ng